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quarta-feira, 7 de maio de 2014

Silêncio nos Trilhos

Algumas placas enferrujadas e envelhecidas nos mostram o caminho que em tempos passados eram percorridos pelas locomotivas. Sobre as montanhas, estradas foram abertas para implantar os primeiros trilhos. A natureza dividiu espaço com o barulho da imensa máquina de ferro que transformou a paisagem da região. Hoje, o silêncio toma conta desses locais que foram testemunhas da história da viação férrea. Percorrer esses caminhos nos permitiu fazer uma viagem ao passado. Esquecer o mundo real e mergulhar em um período no qual tudo girava em torno das ferrovias. Nessa viagem, pudemos reconstruir novamente essa história, observar cada detalhe, ouvir as pessoas e descobrir a importância da estrada de ferro para o desenvolvimento e o crescimento do sul de Minas.

Quando falamos sobre as ferrovias, o assunto desperta paixões. No passado, a estação de trem era mais que uma simples plataforma de embarque e desembarque de passageiros e cargas; era sinônimo de progresso. As poderosas locomotivas foram consumidas pelo tempo. A força delas impulsionou sonhos mas também sepultou vidas. Para muitos ferroviários, a relação com as ferrovias ainda é intensa, resistindo a todos os avanços tecnológicos. Impulsionados pela nostalgia de histórias contadas por ex-ferroviários e saudosistas, nós embarcamos no trem da vida de volta ao passado para conhecer a história da “Viação Férrea Sapucaí”.

A proposta deste livro reportagem foi percorrer os caminhos apagados pelo tempo, com o objetivo de identificar “arquivos vivos” que reconstroem essa narrativa histórica. Percorremos estação por estação, encontramos ex-ferroviários e saudosistas ao longo do trecho, personagens importantes para elaborar este trabalho. Tivemos contato com mais de 20 ex-ferroviários, muito deles com idade já avançada. Também fizemos uma ampla pesquisa em museus, livros, artigos e jornais antigos para fundamentar nossa produção.
Para construir o relato jornalístico, utilizamos linguagem simples e com alguns traços poéticos, valorizando o texto com os testemunhos dos personagens. As entrevistas foram realizadas em ambiente externo, escolhido a partir da relação de cada um com o fato narrado, a fim de que os personagens pudessem mergulhar na atmosfera de tempos passados. Dentre os diversos desafios que enfrentamos ao longo dessas viagens, o maior foi percorrer os trilhos da memória de cada entrevistado. Primeiramente, tivemos que ganhar a confiança de cada um deles, para depois mergulhar nas histórias com as quais, há muito tempo, eles não tinham contato.

O livro reportagem foi desenvolvido entrelaçando vários assuntos, com depoimentos de participantes ou testemunhas desde a implantação até a desativação dos trilhos da Viação Férrea Sapucaí. Nosso objetivo é mostrar aos leitores, por meio de recortes na história, o impacto das ferrovias no século passado e o seu declínio, em favor das rodovias, hoje responsáveis pelo desenvolvimento do país, com destaque para o sul de Minas. Percorremos as cidades de Pouso Alegre, Itajubá, São Lourenço, Cristina e Maria da Fé, e focamos as entrevistas nas três primeiras cidades, onde se concentra o maior número de ex-ferroviários. Para produzir as fotografias que ilustram e complementam o livro tentamos captar imagens que ilustram a dor e o sofrimento de cada ex-ferroviário, saudosista da estrada de ferro.

A viagem terminou nos 10 quilômetros que restam dos 268 quilômetros da antiga “Viação Férrea Sapucaí”. Nesse trecho uma antiga Maria Fumaça percorre os trilhos nos finais de semana entre as cidades de São Lourenço e Soledade de Minas para um passeio turístico. É uma oportunidade de viajar para o tempo em que imperavam essas imensas máquinas, responsáveis pelo progresso da região. Na estação, é impossível não mergulhar na história e viver a magia que a ferrovia proporciona.


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