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sexta-feira, 30 de maio de 2014

Viação Férrea do Sapucaí

Viação Férrea do Sapucaí (1891-1910)
Rede Sul-Mineira (1910-1931)
Rede Mineira de Viação (1931-1965)
Viação Férrea Centro-Oeste (1965-1975)
Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (1975-1986)


Estação Ferroviária de Soledade de Minas
Município: Soledade de Minas
Inauguração: 14/06/1884

Estação Ferroviária de Carmo de Minas
Município: Carmo de Minas            
Inauguração: 15/03/1891

Estação Ferroviária de Ribeiro
Município de
Inauguração: 01/08/1891

Estação Ferroviária de Cristina
Município de Cristina
Inauguração: 15/03/1891

Estação Ferroviária de Anil
Município de Maria da Fé
Inauguração: 01/01/1931

Estação Ferroviária de Maria da Fé
Município de Maria da Fé
Inauguração: 27/06/1891

Estação Ferroviária de Pedrão
Município de Pedralva
Inauguração: 01/06/1907

Estação Ferroviária de Itajubá
Município de Itajubá
Inauguração: 25/09/1891

Estação Ferroviária de Piranguinho
Município de Piranguinho
Inauguração: 29/04/1892

Estação Ferroviária de Olegário Maciel
Município de Piranguinho
Inauguração: 23/08/1894

Estação Ferroviária de Rennó
Município de Santa Rita do Sapucaí
Inauguração: 01/08/1900

Estação Ferroviária de Santa Rita do Sapucaí
Município de Santa Rita do Sapucaí
Inauguração: 23/08/1894

Estação Ferroviária de Porto Sapucaí
Município de Santa Rita do Sapucaí
Inauguração: 09/11/1910

Estação Ferroviária de Pouso Alegre
Município de Pouso Alegre
Inauguração: 21/03/1895

Estação Ferroviária de Imbuia
Município de
Inauguração: 01/01/1931

 Estação Ferroviária de Borda da Mata
Município de Borda da Mata
Inauguração: 01/08/1895

Estação Ferroviária de Bogari
Município de Borda da Mata
Inauguração: 01/01/1931

Estação Ferroviária de Francisco Sá
Município de Ouro Fino
Inauguração: 17/12/1895

Estação Ferroviária de Ouro Fino
Município de Ouro Fino
Inauguração: 12/04/1896

Estação Ferroviária de Caneleiras
Município de Ouro Fino
Inauguração: 15/03/1897

Estação Ferroviária de Jacutinga
Município de Jacutinga
Inauguração: 15/03/1897

Estação Ferroviária de Sapucaí
Município de Jacutinga
Inauguração: 01/07/1898

quinta-feira, 29 de maio de 2014

EXPRESSO DA SAUDADE

Na infância, os caminhos percorridos pelo pai do cronista José Luiz Ayres eram traçados pela estrada de ferro e as histórias que o menino ouvia fizeram com que o personagem principal de suas narrativas fosse à locomotiva movida a vapor. A inspiração do cronista, atualmente, também surge a partir de relatos contados pelos inúmeros turistas que visitam a velha estação de trem em São Lourenço, no sul de Minas.
José Luiz fica de olhos bem atentos e identifica facilmente os passageiros da Maria Fumaça que têm boas histórias para contar. Para o cronista, a ideia de escrever não apenas sobre o que viveu e o que ouvia o pai narrar é uma alternativa para resgatar as histórias dos amantes dos trilhos e manter vivas as lembranças dos viajantes.

Uma das grandes tristezas de José Luiz é ver o descaso do governo com as estradas de ferro no Brasil. Nas inúmeras conversas que tem com os turistas e frequentadores da estação de São Lourenço, percebe o mesmo sentimento: saudade. Hoje, apenas restam 10 quilômetros dos trilhos inaugurados pela “Viação Férrea Sapucaí” em 1897 e o trecho resiste às provações do tempo e da economia regional. Essas relíquias são mantidas entre as cidades de São Lourenço e Soledade de Minas, onde, nos finais de semana, a velha Maria Fumaça é a atração principal para os turistas que visitam a região. O cronista comenta orgulhoso que o passeio é uma oportunidade de embarcar na história dos barões do café e viajar no tempo.

Em poucos minutos, a estação fica lotada de crianças, jovens e adultos. Para muitos, é o primeiro embarque na imensa máquina de ferro. Para outros, não é a primeira vez, mas também não é apenas mais um embarque. Na primeira batida do sino, os bilhetes são conferidos. Cada um busca seu assento nos vagões e a ansiedade toma conta de todos. Enquanto isso, na cabine da locomotiva, a lenha é colocada no forno para ser queimada e o jovem maquinista faz os últimos ajustes para o início da viagem. Na terceira batida do sino, é hora de partir.

José Luiz explica que a antiga estação de São Lourenço, inaugurada em 1891, pela “Viação Férrea Sapucaí”, é atualmente um ponto turístico mantido pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária. No início, a Associação teve o apoio de comerciantes e da rede hoteleira da cidade, que contribuíram para a reativação da linha férrea, e, depois de um ano de muito trabalho, a estação foi inaugurada em 2001 com uma locomotiva e quatro carros de passageiros. O diretor Operacional da linha, Edelmo Dias de Freitas, conta que as atividades da curta estrada de ferro funcionam graças ao turismo e de parcerias firmadas na cidade. Já foi possível construir até um enorme galpão, onde funciona a restauração de vagões de passageiros, a oficina mecânica e a garagem da locomotiva e das composições que estão em funcionamento. Mais que investimento, para que o trem continue percorrendo os trilhos, a Associação depende da mão de obra de 40 profissionais.

Edelmo relata que a grande atração é, na verdade, a locomotiva 1424, que anos atrás percorria a Estrada de Ferro Central do Brasil. Ela foi trazida da cidade de Guapimirim, Rio de Janeiro, último trecho rodado por ela antes de ser levada para São Lourenço. A restauração demorou três anos e, para que fosse possível, foi realizada uma pesquisa histórica para manter todos os traços originais do patrimônio.

Como se não bastasse o cenário deslumbrante, com uma floresta de Mata Atlântica, montanhas, vales e riachos, a viagem é embalada por uma dupla de violeiros. “Em Cruzeiro, a gente montou um centro de restauração de locomotivas. Estamos reformando uma agora”, comenta Edelmo entusiasmado. A fábrica de sonhos promete não parar e atrair até mesmo quem ainda tem os trens como um importante veículo de transporte da atualidade. A Associação Brasileira de Preservação Ferroviária tem investido também em materiais publicitários para a divulgação das linhas turísticas sul mineiras inclusive na Europa, em países como a Inglaterra, berço da Revolução Industrial, uma forma de reavivar as memórias que vem sendo apagadas na história de todo o mundo.






RETRATO DO ABANDONO

O tempo consome o que ainda resta de uma estação construída para abrigar a velha Maria Fumaça em Pouso Alegre. No local, a “Locomotiva 205” está estacionada com seus vagões à espera de uma atitude dos órgãos públicos para revitalizar esse patrimônio. Recentemente, dois de seus vagões foram queimados pelo fogo ateado por anônimos. A lataria está pichada e a ferrugem avança por todos os lados. O mato cobre os trilhos e os dormentes apodrecem com o tempo. Os sinos, o farol e as placas de metal foram roubados. Junto com eles, perdeu-se um capítulo importante da história da linha férrea regional e de uma tentativa de resgatar o passado por meio do turismo.


Seu Tarcísio participou do projeto. Ele conta que precisou da ajuda de três ferroviários e de muito empenho para que a estação turística ganhasse forma. Eles foram até a estação Imbuia para retirar os trilhos abandonados após a desativação da estrada de ferro. Desmontaram três quilômetros da linha de ferro que estava abandonada, primeiro retiraram os pregos, soltaram os trilhos e, por fim, recolheram os dormentes. Para transportar todo o material foi necessária uma carreta. A linha foi remontada perto da BR 459, mas o trecho era curto demais. Com a ajuda de um deputado, foram levados para o local materiais necessários para a construção de mais cinco quilômetros de estrada. Para adquirir a locomotiva, que chegou de Três Corações em uma carreta, uma associação criada no município e a Prefeitura arcaram com as despesas. Depois de finalizadas as obras de construção da linha, foi realizada a inauguração do trecho. O passeio custava cinco reais e o percurso era feito até o bairro Belo Horizonte, em Pouso Alegre, de onde o trem voltava para a estação. Depois de algum tempo, houve alguns problemas entre os dirigentes e Seu Tarcísio se desligou da associação. Tempo depois, a linha foi desativada. Como os custos de manutenção de uma linha turística são altos e não houve mais interesse por parte das autoridades. Seu Tarcísio e outros entusiastas viram morrer o sonho de vivenciarem um novo apogeu da linha férrea em Pouso Alegre, agora como atração turística.

Sentimento semelhante tem o ex-ferroviário José de Paula Andrade, o Seu Juca. Os passos em direção à antiga Estação de Trem de Pouso Alegre, no centro da cidade, são lentos, seguem o ritmo da idade de Seu Juca, hoje com 82 anos. E ele não tem pressa de chegar ao destino, onde, por 18 anos, foi seu local de trabalho. Por alguns instantes, o ex-ferroviário parece se esquecer do presente ao interromper inesperadamente a caminhada. O olhar se fixa na direção da antiga Estação e analisa cada detalhe. A respiração logo fica profunda e a face é emoldurada por lágrimas, enquanto surgem, à sua frente, cenas do passado, que apenas ele pode ver.

A vida do ex-ferroviário seguiu novos rumos com o fim da estrada de ferro. Mas, para ele, é impossível não se lembrar do dia a dia da pacata cidade do século passado e do grande movimento na estação da cidade. Chegavam carroças, tropas, carros de boi, cavaleiros e carro de luxo que disputavam espaço com as locomotivas. Nas janelas, olhares curiosos acompanhavam quem chegava a cidade. E, na plataforma de embarque, muitas lágrimas rolavam nas partidas. A estação era ponto de encontro para uma boa conversa entre os fazendeiros que marcavam ponto no local.

Era madrugada quando o galo interrompia mais uma vez o sono da vizinhança e a cidade começava a despertar. Minuto a minuto, o apito avisava que o trem estava se aproximando da cidade. À medida que avançava, o som ficava mais intenso e, naquela manhã, parecia ser diferente, como se anunciasse que o trem percorria os trilhos em sua última viagem. Logo o dia amanheceu e Seu Juca partiu rumo ao seu trabalho. No caminho, ele percebia o intenso movimento de carros pelas ruas e avenidas que cresceram rapidamente. O barulho das buzinas penetrava em seus ouvidos. Eram cenas diferentes da época que conquistou seu espaço no mundo das ferrovias. Mesmo sem entender essas transformações ele seguiu rumo à bilheteria da estação.

Antes de o dia terminar, ele sabia que sua missão seria interrompida quando cruzasse a porta de entrada da estação. Aquele seria o dia em que o ferroviário Seu Juca, ou Juquinha da estação, seria testemunha da cena mais triste da sua vida. As mesmas mãos que, por anos, venderam bilhetes aos passageiros seriam as responsáveis por usar as chaves da estação para fechá-la definitivamente. Depois de quase 40 anos dedicados à linha férrea, parte de sua vida era levada, naquela tarde do dia 31 de outubro de 1983, pelo trem que um dia cruzou a sua vida.

Inconformado com o fim da ferrovia e para não presenciar a retirada dos trilhos e dormentes, Seu Juca, que residia perto da estação, mudou-se para longe do antigo local de trabalho. Mesmo depois de tantos anos, ele ainda se lembra de cada detalhe e lamenta que, em todo esse tempo, as únicas chaves que passou a carregar consigo são as de sua casa, que fica bem distante da antiga estação. Dor para uns, sinônimo de felicidade para outros, o espírito saudosista é o combustível para o retorno dos trens aos trilhos, mesmo que apenas turísticos, em cidades da região.