SENTIDOS DIFERENTES
Mesmo com a duplicação da Fernão Dias, a estátua permanece no local há mais de 50 anos e pode ser vista por quem chega ao trevo da principal entrada de Pouso Alegre. Terezinha faz parte da geração que cresceu e acompanhou o desenvolvimento sobre quatro rodas. Na infância, ela viu de perto a estrada de ferro e teve a oportunidade de passear na velha Maria Fumaça. Um ano antes da chegada do pai com toda a família em Pouso Alegre, foi criada, pelo governo a Rede Ferroviária Federal, que uniu 22 ferrovias do país, dentre elas, a Rede Mineira de Viação. O sistema ferroviário passou a pertencer ao governo federal e o Brasil se orgulhava de possuir a oitava maior ferrovia do mundo, com 38 mil quilômetros de trilhos.
Terezinha se recorda que, na década de 1960, os trens de passageiros atingiram seu apogeu em Minas. Porém, com o tempo, perderam espaço e a ferrovia passou a ser vista apenas como meio para o transporte de cargas. Com os investimentos e o crescimento do transporte rodoviário, os trens de passageiros “saíram da linha”. As locomotivas não conseguiram atingir a mesma velocidade do desenvolvimento tecnológico que chegava sobre o asfalto. No trecho sul mineiro da Sapucaí, surgiam os primeiros sinais de que os trens chegariam ao seu destino final. Com o desgaste dos trilhos, os
tombamentos e descarrilamentos eram comuns.
Embora saudosa dos bons tempos das ferrovias, Terezinha exibe orgulhosa uma medalha que o pai recebeu do ex-presidente Juscelino Kubistchek, governante que iniciou os investimentos na expansão rodoviária no Brasil. A relíquia é guardada cuidadosamente entre fotos igualmente importantes, como uma fotografia do pai com o presidente JK. Juscelino percebeu que o desenvolvimento do país apenas seria possível se ele facilitasse a entrada do capital estrangeiro no Brasil, com as multinacionais. Para alavancar o desenvolvimento, ele começou a investir na abertura de estradas pavimentadas. O ex-presidente planejava que o país crescesse 50 anos em cinco e apostou na indústria automobilística, que seria a responsável por atrair outras indústrias. Não demorou para o segmento ganhar espaço no mercado nacional e impulsionar o desenvolvimento rodoviário no país. As estradas de rodagem, então, se tornaram o principal meio de transportes de cargas e passageiros do país e, hoje, sua extensão ultrapassa os 56 mil quilômetros de estradas pavimentadas, enquanto as linhas férreas amargam a redução para apenas 9 mil quilômetros.
Mas o sul de Minas não padeceu do lamento saudosista e se, no século passado, as ferrovias foram responsáveis por movimentar a indústria cafeeira, que movia a economia do país e da região sul mineira, atualmente são as enormes indústrias que investem na região. Considerada um dos mais importantes eixos de transportes do Brasil, a Rodovia Fernão Dias, que em Pouso Alegre encontra a BR 459, desempenha um papel importante de ligação do sul de Minas com a rodovia Presidente Dutra, em direção ao Rio de Janeiro, e tal entroncamento tem atraído empresas de várias partes do Brasil e de outros países, colocando a economia regional novamente nos trilhos e em ritmo acelerado.
Emocionada, Terezinha se lembra de que o pai teve uma participação muito importante no desenvolvimento de Pouso Alegre, décadas atrás, com o trabalho prestado para a construção da Fernão Dias, e ela teve a felicidade de testemunhar o desenvolvimento econômico do município e da região em função da estrada federal. Estacionada na entrada da cidade, a imagem do desbravador Fernão Dias, que há tempos assiste à marcha regional pelo desenvolvimento, atualmente divide espaço com um grande anel viário, que compõe o novo cenário da Fernão Dias. Entretanto, até chegar à próspera realidade atual, a região sul mineira sofreu com uma época em que o trem ainda seguia seus caminhos sinuosos, nos quais muitas vidas foram tragicamente interrompidas.
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