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quinta-feira, 29 de maio de 2014

EXPRESSO DA SAUDADE

Na infância, os caminhos percorridos pelo pai do cronista José Luiz Ayres eram traçados pela estrada de ferro e as histórias que o menino ouvia fizeram com que o personagem principal de suas narrativas fosse à locomotiva movida a vapor. A inspiração do cronista, atualmente, também surge a partir de relatos contados pelos inúmeros turistas que visitam a velha estação de trem em São Lourenço, no sul de Minas.
José Luiz fica de olhos bem atentos e identifica facilmente os passageiros da Maria Fumaça que têm boas histórias para contar. Para o cronista, a ideia de escrever não apenas sobre o que viveu e o que ouvia o pai narrar é uma alternativa para resgatar as histórias dos amantes dos trilhos e manter vivas as lembranças dos viajantes.

Uma das grandes tristezas de José Luiz é ver o descaso do governo com as estradas de ferro no Brasil. Nas inúmeras conversas que tem com os turistas e frequentadores da estação de São Lourenço, percebe o mesmo sentimento: saudade. Hoje, apenas restam 10 quilômetros dos trilhos inaugurados pela “Viação Férrea Sapucaí” em 1897 e o trecho resiste às provações do tempo e da economia regional. Essas relíquias são mantidas entre as cidades de São Lourenço e Soledade de Minas, onde, nos finais de semana, a velha Maria Fumaça é a atração principal para os turistas que visitam a região. O cronista comenta orgulhoso que o passeio é uma oportunidade de embarcar na história dos barões do café e viajar no tempo.

Em poucos minutos, a estação fica lotada de crianças, jovens e adultos. Para muitos, é o primeiro embarque na imensa máquina de ferro. Para outros, não é a primeira vez, mas também não é apenas mais um embarque. Na primeira batida do sino, os bilhetes são conferidos. Cada um busca seu assento nos vagões e a ansiedade toma conta de todos. Enquanto isso, na cabine da locomotiva, a lenha é colocada no forno para ser queimada e o jovem maquinista faz os últimos ajustes para o início da viagem. Na terceira batida do sino, é hora de partir.

José Luiz explica que a antiga estação de São Lourenço, inaugurada em 1891, pela “Viação Férrea Sapucaí”, é atualmente um ponto turístico mantido pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária. No início, a Associação teve o apoio de comerciantes e da rede hoteleira da cidade, que contribuíram para a reativação da linha férrea, e, depois de um ano de muito trabalho, a estação foi inaugurada em 2001 com uma locomotiva e quatro carros de passageiros. O diretor Operacional da linha, Edelmo Dias de Freitas, conta que as atividades da curta estrada de ferro funcionam graças ao turismo e de parcerias firmadas na cidade. Já foi possível construir até um enorme galpão, onde funciona a restauração de vagões de passageiros, a oficina mecânica e a garagem da locomotiva e das composições que estão em funcionamento. Mais que investimento, para que o trem continue percorrendo os trilhos, a Associação depende da mão de obra de 40 profissionais.

Edelmo relata que a grande atração é, na verdade, a locomotiva 1424, que anos atrás percorria a Estrada de Ferro Central do Brasil. Ela foi trazida da cidade de Guapimirim, Rio de Janeiro, último trecho rodado por ela antes de ser levada para São Lourenço. A restauração demorou três anos e, para que fosse possível, foi realizada uma pesquisa histórica para manter todos os traços originais do patrimônio.

Como se não bastasse o cenário deslumbrante, com uma floresta de Mata Atlântica, montanhas, vales e riachos, a viagem é embalada por uma dupla de violeiros. “Em Cruzeiro, a gente montou um centro de restauração de locomotivas. Estamos reformando uma agora”, comenta Edelmo entusiasmado. A fábrica de sonhos promete não parar e atrair até mesmo quem ainda tem os trens como um importante veículo de transporte da atualidade. A Associação Brasileira de Preservação Ferroviária tem investido também em materiais publicitários para a divulgação das linhas turísticas sul mineiras inclusive na Europa, em países como a Inglaterra, berço da Revolução Industrial, uma forma de reavivar as memórias que vem sendo apagadas na história de todo o mundo.






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