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terça-feira, 6 de julho de 2010

Tradição católica Jailson Silva

Com um giz nas mãos, vários desenhos foram riscados no chão, cada um deles inspirados na fé. Era possível ver figuras de Jesus, Virgem Maria, cálices, velas, cachos de uva, e vários outros símbolos eucarísticos, que foram um a um preenchidos com pó de serra de várias cores, dando um colorido todo especial ao longo das ruas, em Cambuí. Também foram utilizados outros materiais como farinha de trigo, sal, tampinhas de garrafa revestidas e flores.

A construção do tradicional tapete de Corpus Christi mobilizou centenas de fiéis da Paróquia Nossa Senhora do Carmo. O trabalho começou bem cedo para essas pessoas, que vieram para ajudar a enfeitar as ruas centrais da cidade para a tradicional procissão. Ao longo das ruas, era possível ver gente de todas as idades que vieram animadas para o trabalho. Todas as pastorais e movimentos da igreja estavam envolvidas, cada uma delas responsável por um espaço. Com a união dessas pessoas foi possível construir o tapete em homenagem a Jesus Cristo.

Algumas pessoas se tornam verdadeiros artistas durante a execução do trabalho. Uma manifestação da arte popular inspirada pela fé. Cada voluntário tem a oportunidade de colocar seu dom a serviço da comunidade. Para a professora Nilta Aparecida da Fonseca, 39, é muito bom ver todos trabalhando juntos. “É um momento de união das pastorais e movimentos da igreja, que em meio ao frio e cansaço dedicam seu tempo para ajudar”. Ela comenta que “todos fazem com capricho e amor esse trabalho”. Paulo Sérgio, 27, estudante também fez a sua parte. Ele comenta que o “pessoal realmente deita no chão para fazer os desenhos”, mas que todo esse sacrifício vale apena.

O resultado foi um tapete de 1 km de comprimento e 1,5 metro de largura, motivo de satisfação para todos os voluntários envolvidos nos enfeites. Alguns moradores também contribuíram. Foram colocados panos de várias cores nas janelas de algumas casas para receber a procissão com “Cristo Eucarístico”.

Lembranças de família

Nascida em família católica, Nilta relembra da tradição na celebração de Corpus Christi na cidade. Nos tempos de criança também ajudava nos enfeites das ruas para essa celebração. Mas todo o processo era feito de maneira diferente. Os enfeites eram confeccionados por várias famílias dias antes. Ao longo das ruas, ao invés do tapete, eram feitos varais de bambu, que serviam como suportes para os cachos enroladinhos preparados com papel crepom. Todas as crianças envolviam nesse trabalho artesanal que era feito com muito carinho.

Em sua memória ela guarda esses momentos de grande fé, que mesmo com o tempo não se apagaram. Hoje tem a oportunidade de ajudar nesse trabalho, e diz que é uma emoção muito grande. “É um trabalho feito com as mãos, é um momento para a gente agradecer a Deus em poder fazer”.

O mistério da fé

O momento mais importante foi à celebração eucarística, que aconteceu na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo, no período da tarde no último dia 3. A celebração presidida pelo pároco Padre Omar Aparecido de Siqueira e concelebrada por Padre Elton Cândido Ribeiro reuniu uma multidão de fiéis vindos de vários bairros da cidade que participaram desse momento de muita fé para a comunidade católica.

Na tradição católica essa solenidade foi criada na Idade Média para celebrar solenemente o mistério da Eucaristia - o sacramento do “Corpo e do Sangue de Cristo”. É celebrada todos os anos após o domingo da Santíssima Trindade. Na reflexão durante a celebração, Padre Omar, diz que “sem a eucaristia não podemos viver a vida de Deus”. Também comenta sobre a importância da partilha entre os cristãos e o amor como modelo de comunidade. “Percebemos que cada dia de nossa vida é seu e que sua vida é nossa vida”.

Segundo Padre Elton, vigário paroquial, essa celebração é uma oportunidade de recordar o sentido profundo da eucaristia na vida da igreja. Ele ressalta que o cristão é “chamado a ser no mundo eucaristia, partilhando aquilo que tem e aquilo que é na construção de um mundo mais fraterno e mais irmão”.

O momento mais marcante foi a procissão que seguiu pelas ruas centrais da cidade após a celebração. O trajeto teve início na praça da matriz, desceu pela rua Ângelo Bernardo Faccio, seguiu pela Rua Coronel Lambert, depois subiu a Rua Capitão Soares e retornou pela Rua João Moreira Salles. Em todo o trajeto, num clima de muita oração os fiéis rezavam e cantavam seguindo a procissão.

Sobre o tapete colorido, “Cristo Eucarístico” foi levado em um ostensório entre uma multidão de fiéis. Benedito Ferreira, 70, aposentado, muito emocionado durante a procissão diz que essa é uma oportunidade que os cristãos têm para estarem mais próximos de Cristo. “Não tenho palavras para expressar o que sinto”. Segundo Terezinha Salles Sampaio, 70, esse momento mostra a fé dos cristãos. “Jesus é vida na vida da gente”. Muito emocionada ela diz que participa há 40 anos dessa celebração e cada ano é um sentimento diferente. “Se não fosse a eucaristia, vã seria a nossa fé”.

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