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terça-feira, 6 de julho de 2010

Produção artesanal reduz pena de detentos
O detento Marcelo Soares aprendeu o ofício na prisão

Jailson Silva

Dos 74 presos da cadeia de Cambuí, 80% se dedicam ao trabalho artesanal. Desde 2006, eles passaram a confeccionar as peças com o intuito de conquistar o beneficio previsto no artigo 126 da Lei de Execuções Penais (LEP) que permite a redução da pena, a cada três dias trabalhados, o detento tem um dia descontado no tempo de prisão. As peças são comercializadas pelos familiares, que vendem os produtos aos amigos, parentes e até para pessoas que fazem encomendas.

O material utilizado é comprado pelos familiares, que é entregue aos detentos nos dias de visita. Eles também são os responsáveis pela comercialização das peças na cidade. Maria Leonilda Costa, dona de casa, mãe de um detento, ressalta que o trabalho é muito importante para todos os detentos, e que se filho consegue ganhar uma boa quantia financeira com as peças que ele produz. Ela afirma que quanto mais eles se empenham em fazer trabalhos bem feitos, maior é o retorno financeiro, e algumas peças são vendidas por até R$ 150,00 reais.

O detento Marcelo Soares explica que as peças são compradas por pessoas desconhecidas, e que um dia poderá passar na rua e poderá vê-las numa loja, numa vitrine. Ele afirma que isto é motivo de orgulho. “Nós temos que pagar por aquilo que nós fizemos, a gente acaba pagando e utilizando nossa mente, e isso, gera beneficio para gente e fica bem melhor a convivência em si.”
Segundo o delegado Victor Minhoto Meinão, os presos que trabalham nesse projeto, tem apresentado uma melhora significativa no seu comportamento dentro das celas e na convivência com os outros detentos. Ele afirma também que “a partir do momento que o preso sai da cadeia e já tem uma profissão, é muito mais fácil ele ser reinserido na sociedade do que quando sai e não tem nenhuma profissão, não tem nenhum oficio e não sabem nem o que fazer.”

Para Soares, que cumpre sua pena há um ano, não foi difícil aprender a fazer as primeiras peças, foi necessário observar os companheiros que já faziam esses trabalhos e prestar muita atenção. Segundo ele “antes eu não tinha tempo para trabalhar com artesanato, mas o que eu aprendi aqui é trabalhar a paciência, porque o artesanato não é difícil, e você tendo paciência, você consegue desenvolver qualquer tipo de peça.”

Maria Leonilda, que tem seu filho preso há um ano, afirma que o projeto traz muitos benefícios para os presos e familiares, e proporciona a eles uma recuperação e um aprendizado de uma nova profissão que poderá ser colocada em prática quando eles cumprirem suas penas. Todas as peças que seu produz, ela comercializa, e que esse dinheiro é usado na compra de materiais para que possam ser produzidas novas peças e na compra de utensílios básicos para o filho.

Ela comenta também que “a reação das pessoas é muito boa, porque esse é um trabalho como qualquer outro, e a diferença é que são feitos por pessoas que um dia erraram e estão pagando por aquilo que fizeram.”

De acordo com Meinão, o projeto traz muitos benefícios para os presos e para o sistema prisional. Mas infelizmente, a quantidade de presos existentes na cadeia vem aumentando, mas isso é um reflexo da sociedade brasileira, pois o número de presos tem aumentado em todo pais, não só em Cambuí.

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