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terça-feira, 6 de julho de 2010

Rompendo limites na busca de um sonho
Nas brincadeiras de infância, Danilo ficava horas em um tapete estendido ao chão. A sua companhia eram bonecos de super heróis. Ele criava um mundo de fantasias, enquanto seus colegas se divertiam brincando de futebol e outras brincadeiras. Em meio a pensamentos, ele transformava os seus momentos de solidão em histórias. Os seus heróis se tornavam apresentadores, participavam de programas, e até mesmo ele entrava no mundo da criação. Muitas manhãs foram assim, o sol brilhava forte num horizonte que parecia não ter fim.

Hoje com 21 anos, ele lembra desses momentos com muita emoção. Dos brinquedos apenas restam à memória. Danilo Casalechi de Castro Souza, o menino de olhos azuis e de cabelos amarelos e com um largo sorriso no rosto mostra que venceu muitos obstáculos e vem conquistando seu espaço. Filho do casal Ivan e Denise, hoje separados, ele também tem uma irmã, a Bruna de 17 anos. Ele nasceu de apenas 6 meses, mas a sua maior luta sempre foi contra o preconceito de ser um “cadeirante”.

Empurrando sua cadeira, saímos à procura de um lugar calmo para conversar. Depois de algumas voltas encontramos um banco vazio, resolvemos parar naquele lugar. Coloquei ele de frente comigo e começamos a nossa conversa. Comecei a observar na medida em que ele falava uma voz que me chamava muita atenção, os seus braços se movimentavam de uma lado para o outro e as mãos ajudavam ele a dizer aquilo que guardava há muito tempo. Na medida que o tempo foi passando, sentia que ele foi ficando mais tranqüilo e as palavras que ele pronunciava iam desenhando a sua vida.

Danilo diz que a “condição de cadeirante” nunca foi um problema que influenciou na sua vida de jovem e nos seus trabalhos. Sobre duas rodas ele teve uma nova percepção da vida, aprendeu que seus maiores limites são a falta de coragem e de lutar contra os desafios da vida. Para ele a “cadeira” nunca impediu de sonhar e buscar seus ideais. Ele nasceu com paralisia cerebral, o que não possibilitou andar, mas permitiu ir além, olhar com os olhos do coração. Com muita convicção ele diz que a cadeira de rodas sempre foi um “acessório”, que dá a segurança que ele precisa, tornando os dois uma só pessoa.

Solidão e descobertas
A sua infância, ele revela que foi muito tranqüila, vivia nos braços da avó, sua grande companheira, que fazia questão de levá-lo para todos os lugares. Em uma dessas andanças com a avó, um fato curioso aconteceu. Um dia nos braços da avó, eles foram à padaria e quando chegaram lá o balconista disse que ele era muito grande para estar ali, e ela num tom muito calmo disse que ele não podia andar. O balconista muito envergonhado pediu desculpas. Muitas lágrimas escorrem pelo rosto dele ao lembrar desse fato. Ele diz que sempre foi otimista em relação a sua vida, tem fé e esperança, mas nunca pensou que fosse andar, jogar futebol, ou correr como os outros meninos, “sempre estive na realidade”.

Na solidão que muitas vezes sentia, ele procurava se alegrar com programas infantis que passavam na TV pela manhã, um desses, o “programa da Xuxa”, marcou a sua vida, era sua companhia de todas as manhãs. O seus olhos brilham toda fez que fala da sua paixão pela Xuxa, uma fonte de inspiração que até hoje tem. “Tento sempre buscar a inocência e as crianças me inspiram pureza”, diz ele. No seu quarto ele guarda com muito carinho muitos pôsteres e materiais dessa época.

Como todo jovem, Danilo em sua adolescência viveu uma fase de rebeldia, vários momentos pensou em desistir, sentia excluído das pessoas e imaginava que não iria suportar tantos preconceitos. Ele criava situações que o deixava muito revoltado, uma delas era, “quem poderia namorar com um cadeirante”. Nesse momento vem a tona muitos sentimentos, ele fica um pouco tenso, mas vai se aliviando na medida em que as palavras vão sendo pronunciados, dando lugar a uma tranqüilidade.

Determinação de um jovem
Entre uma conversa e outra, ele sempre faz questão de lembrar o seu amor pelas crianças. O seu primeiro trabalho com o público infantil teve inicio em 2007. Na época ele foi convidado para escrever para uma coluna infantil de um site de Pouso Alegre. Nesse período já foram publicadas muitas matérias. Hoje ele é reconhecido por muitos pais e filhos que acompanham o seu trabalho. A coluna “DANILO 10”, recebe inúmeras visitas todas as semanas e já é um sucesso na região.

Atualmente ele cursa Jornalismo na Universidade do Vale do Sapucaí. Essa é mais uma conquista de Danilo, que nunca desistiu dos seus ideais e sonhos. Muitas pessoas não acreditaram na sua determinação e hoje ele prova a todos o quanto é capaz. “Eu prefiro ficar sem minha cadeira, do que deixar de fazer comunicação”, conclui ele.

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